Sentimentos de verão
É possível que agosto seja um dos meses mais instáveis do ponto de vista das emoções. Para uns, é o mês da libertação. Para outros, é o mês da culpa. Não vivemos todos o agosto de forma semelhante. E nem todos os anos da mesma maneira. Se uns fazem a desconexão total do primeiro ao último dia, outros têm a ingénua esperança de, pelo menos em alguns dias, conseguir correr atrás do prejuízo dos meses anteriores, compensar alguns atrasos ou retomar projetos que se deixaram suspensos nalgum daqueles períodos críticos do meio do ano.
Pode, de facto, chegar-se ao mês de agosto com a determinação legítima de não fazer nada de nada, de usufruir do tempo para ler literatura policial (que normalmente é uma boa opção para distrair) ou para mudar os temas de conversa… ou para deambular por lugares aonde vamos sem pretextos de trabalho. Mas também se pode chegar ao mês de agosto com a sensação de que se chegou à salvação para o que foi ficando por fazer (um capítulo que se devia ter escrito em março ou abril)… ou que, finalmente, se vai poder adiantar trabalho para alcançar setembro com uma aparente confiança num recomeço mais organizado (uma tese que se vai arguir logo nos primeiros dias do ano e que se pode ir lendo de forma espaçada).
De uma ou de outra maneira, era bom que em agosto fizéssemos como se fazia com os pull back cars, os carrinhos de brincar cujas rodinhas se puxavam atrás para ganharem velocidade a seguir quando os libertávamos. Porque, de uma maneira ou de outra, ao jeito de cada um e na ambiguidade de sentimentos que nos despertam o mês de agosto, o que será mesmo necessário é dar corda ao pensamento.
Madalena Oliveira, Presidente da Direção da Sopcom |