A vulnerabilidade do jornalismo e dos jornalistas é, há muito tempo, uma preocupação da comunidade científica de Ciências da Comunicação, expressa no trabalho realizado em centros de investigação e estabelecimentos de ensino superior nacionais. As fragilidades do setor estão bem documentadas em pesquisas que demonstram os problemas decorrentes da falência do modelo económico, da concentração da propriedade, da falta de pluralismo, do acesso a canais alternativos de veiculação de conteúdos, do crescente poder das fontes e dos movimentos de desinformação. Estes e muitos outros fatores evidenciam a necessidade de se continuar a debater o valor que se atribui ao jornalismo, uma atividade tão necessária à confiança e à ação esclarecida, a uma cidadania responsável e participativa.
Reunida no final de janeiro, em Braga, a Assembleia Geral da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação manifestou apreensão com a situação geral do jornalismo no país. É sua convicção que a ligação entre a qualidade da informação e a democracia, bem como o contributo do jornalismo para a construção de uma sociedade plural, desenvolvida, inclusiva, participativa e atenta às transformações do mundo contemporâneo não pode ser mera figura de retórica. Os membros da Sopcom consideram, por isso, muito preocupantes as condições precárias em que muitos jornalistas exercem a profissão, tanto a nível nacional como local, assim como a crítica situação vivida em particular pelos trabalhadores do Global Media Group (GMG).
Reconhecendo que os jornalistas têm responsabilidades inalienáveis na forma como é assegurado ao cidadão o direito a ser informado, a Sopcom recorda que este compromisso é extensível aos média e às empresas proprietárias de órgãos de comunicação social. A comunidade científica de Ciências da Comunicação manifesta solidariedade para com todos os profissionais que, quer no GMG, quer nos restantes média, quer ainda como freelancers, lutam pela melhoria de condições de trabalho condizentes com um serviço público de informação de qualidade, que os cidadãos merecem e a democracia exige.
A Sopcom apela às autoridades competentes uma ação política urgente que contribua para dignificar o trabalho dos jornalistas e está disponível para, através da investigação científica, participar no debate público sobre o futuro da atividade jornalística. Seja pela iniciativa legislativa, seja pela adoção de medidas extraordinárias de apoio, é urgente contrariar a fatalidade que parece condenar o jornalismo a uma profissão “em vias de extinção”.
08 de fevereiro de 2024
A Direção da Sopcom,
Madalena Oliveira
Carlos Camponez
Gisela Gonçalves
Dora Santos Silva
Nuno Moutinho
José Gomes Pinto
Ana Raposo