EDITORIAL

Não é talvez o tema mais apropriado para um arranque de férias, mas a recente organização do congresso da IAMCR, que a SOPCOM apoiou, é bem o pretexto para um apontamento sobre a 'cidadania' com que se participa hoje em congressos. Não sei se as coisas mudaram nos últimos tempos, porque a minha memória deste tipo de acontecimentos não chega ainda a ter uma década. Em todo o caso, há um conjunto de sinais que indiciam uma certa ambiguidade decorrente talvez do facto de, como em tudo na vida, o excesso de oferta redundar num desinteresse ou descomprometimento de quem procura.

Tendo participado na organização de pelo menos dois congressos de dimensão nos últimos anos, tenho observado particularmente alguns comportamentos que chegam quase a preverter o sentido destes encontros. Por um lado, parece generalizar-se uma certa indiferença relativamente aos programas científicos. São muitos os participantes que se deslocam a um congresso não para participar nas actividades propostas mas antes para ali apenas 'deixar o seu recado', isto é, apresentar a sua comunicação, e vir embora como se tudo o resto, inclusive 'ouvir os outros', fosse dispensável. Por outro lado, é também notório o desinteresse pelos documentos normalmente disponibilizados (previamente em suportes digitais e durante os congressos, no interior do chamado 'kit de conferencista'). Quem já observou, ou experimentou, a actividade de um information desk numa destas conferências sabe certamente a quantidade de perguntas que são colocadas por quem, simplesmente, não leu a informação anunciada. Por último, são lastimavelmente elevados os números de pessoas (que as comissões organizadoras facilmente identificam e conhecem) que tentam participar nestes eventos de forma ilegítima, sem o devido registo e sem o pagamento de uma inscrição. Bem sabemos que as taxas de inscrição de alguns congressos são particularmente caras... mas é desrespeito pelos organizadores tentar (nalguns casos conseguir efectivamente) 'entrar sem pagar'. Cada participante, independentemente do tempo que passa no congresso, representa um custo que não pode ser ignorado por quem também precisa dos congressos para 'fazer currículo'.

Madalena Oliveira