Instrumentalização das Ciências da Comunicação e emergência de novas formas de autoritarismo
Permita-se-nos
sublinhar dois acontecimentos deste mês de maio na área das Ciências da
Comunicação: a edição de quatro volumes com os artigos resultantes das
conferências do 9º Congresso da SOPCOM, realizado em 2015, e o envolvimento dos
centros de investigação na apresentação de candidaturas de projetos de
investigação à Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
A
publicação das conferências do 9º Congresso, é a expressão da importância que
as Ciências da Comunicação assumiram no contexto científico nacional e
lusófono. À beira de comemorar os seus 20 anos, a SOPCOM tem razões de sobra
para se regozijar do caminho percorrido, sem descurar, porém, os desafios que
se lhe colocam no futuro, tendo em conta as alterações em curso em todos os
domínios da comunicação.
Longe vão
os tempos, na Europa e no mundo, em que, com alguma propriedade, se dizia que
as Ciências da Comunicação se assemelhavam a um cruzamento por onde muitos
passavam mas ninguém se detinha.
Apesar
disso, não deixa de ser preocupante verificar o facto de, em Portugal, em
matéria de políticas de financiamento, as Ciências da Comunicação continuarem a
ser valorizadas, pela sua componente instrumental e estratégica. A SOPCOM já no
passado denunciou as políticas de desinvestimento nas Ciências da Comunicação.
Agora, bastaria analisar os conteúdos das áreas prioritárias de
financiamento implícitas no Sistema de Apoio à Investigação Científica e
Tecnológica, previstas para 2017, para perceber que a comunicação aparece
fundamentalmente associada às indústrias culturais e criativas e, nestas, como
um tema quase “regionalizado” a Lisboa.
Ultrapassar
esta visão estritamente instrumental, por um lado, e, por outro, a
retórica vazia – porque sem consequências – sobre a ligação entre a comunicação
e a democracia, eis o desafio que se nos coloca como investigadores. A
afirmação das Ciências da Comunicação como um espaço de saber próprio
parece-nos fundamental para que elas possam desempenhar a sua função crítica
perante os claros sinais de emergência de novas figuras de controlo e de autoritarismo.
Carlos Camponez
Vogal da Direcção da SOPCOM