Denis McQuail (1935 – 2017): In memoriam
No passado dia 25 de junho morreu um dos mais
importantes académicos das Ciências da Comunicação. Aos 82 anos, Denis McQuail,
deixou-nos e, para muitos de nós, esta perda é simplesmente irreparável.
Recordo uma figura luminosa, com uma curiosidade sem fim e de uma generosidade
inexcedível. Mais do que um autor que me ajudou a caminhar, foi um amigo, um
conselheiro.
Extraordinário organizador e teórico brilhante, Denis
McQuail estudou as audiências, a comunicação política, a esfera pública, o
jornalismo, a deontologia profissional, a liberdade de expressão, a
responsabilidade social dos media, a
regulação e política da comunicação, a comercialização, concentração e poder
mediático, as novas tecnologias da informação e da comunicação, entre muitos
outros temas. A sua abrangência e vigor científico fazem dele um dos mais
marcantes construtores do nosso campo. Em 2010, Peter Golding escrevia que,
à distância, percebemos melhor quão originais foram estas obras e, em
retrospetiva, até nos parece simples, mas não havia até então uma visão clara
sobre o campo: ‘a originalidade e a influência do seu trabalho é imensa’.
Na realidade, professores, investigadores e estudantes
um pouco por todo o mundo beneficiaram da sua vasta obra, tendo muitos iniciado
mesmo o estudo da comunicação e dos mediacom alguns dos seus livros: ‘Sociology of Mass Communication’, ‘Media
Performance’ ou com o mais enciclopédico de todos, ‘Mass Communication Theory.
Este último vendeu mais 100 mil cópias, tendo sido traduzido em dezenas de
línguas, e republicada, em 2010, com o título ‘McQuail’s Mass Communication
Theory’.
Denis McQuail estudou História na Universidade de
Oxford nos anos 50 do século passado. Completou o seu doutoramento em Estudos
Sociais na Universidade de Leeds, em 1977, com uma dissertação sobre televisão
e interesse público, temática, aliás, que nunca abandonaria. Durante 20 anos,
foi professor e investigador na Escola de Comunicação da Universidade de
Amsterdão onde se viria a reformar, em 1997. Professor Emérito esta
Universidade, foi também Professor Convidado na Universidade de Southampton.
O seu regresso ao Reino Unido, após a reforma, esteve longe
de corresponder a uma fase menos ativa da sua vida. Bem pelo contrário. Foi uma
fase intensa de participação em projetos de investigação, aconselhamento,
conferências e muito mais. O seu gosto pela ciência, pelo ensino e pelas
viagens só cresceu e manteve uma fortíssima atividade académica até muito
recentemente, apesar da doença que o fragilizava.
Denis McQuail é essencialmente conhecido pela sua
vasta obra que é referência obrigatória para os estudantes de comunicação,
media e cultura nas universidades que têm projetos de ensino nestas áreas.
Menos conhecida será talvez o seu trabalho agregador e mobilizador, que
permitiu a criação de estruturas de investigação europeias que marcaram
definitivamente o que é hoje a investigação na Europa. Foi co-fundador do European
Journal of Communication e do Euromedia
Research Group, tendo-se mantido ativo no plano da edição e da publicação, contribuindo
das mais variadas formas para o desenvolvimento dos projetos em que acreditava.
Denis McQuail conhecia bem a investigação que se fazia
em Portugal, tendo respondido positivamente a vários convites que, ao longo das
décadas, lhe foram sendo dirigidos pela comunidade científica portuguesa. Na
Universidade do Minho, desenvolveu relações de amizade profundas e teve sempre
a admiração dos estudantes e dos professores e investigadores. Em 2004, por
proposta do Instituto de Ciências Sociais, a Universidade do Minho atribuiu-lhe
a Cátedra Carlos Lloyd Braga, tendo sido, também ao longo dos anos, consultor
em inúmeros projetos do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade e, até ao
fim, membro da Comissão Externa de Acompanhamento deste centro de investigação.
O contributo de Denis McQuail para o Centro de Estudos
de Comunicação e Sociedade foi extraordinariamente importante para o seu
desenvolvimento e afirmação. Mas hoje, mais do que o contributo científico,
gostaria de sublinhar as suas qualidades humanas. A generosidade e abertura a
novas ideias eram traços marcantes da sua personalidade. Profundamente
inspirador, Denis McQuail deixa-nos mais sós, mas a sua vida expandiu a nossa
compreensão sobre a responsabilidade social dos media e sobre o papel que a comunicação desempenha no mundo que é
de todos.
Helena Sousa
Centro de Estudos de Comunicação e
Sociedade da Universidade do Minho