Comunicação de crise
Mesmo tendo em conta a conhecida
afirmação de Hegel de que “a coruja de Minerva só
inicia o seu voo ao cair do crepúsculo” (sigo aqui a tradução de Artur Morão),
a atual pandemia já confirmou aquilo que todos nós, do campo das ciências da
comunicação, há muito sabemos: a importância crucial da comunicação em
situações de crise, de saúde e não só.
Mas não se trata de uma qualquer
comunicação – por exemplo daquela comunicação que, geralmente através das redes
sociais, veicula boatos, fake news, mentiras e teorias da conspiração,
muitas vezes originadas em responsáveis políticos autoritários e populistas.
A comunicação que interessa é a que
veicula a informação que obedece a critérios que os jornalistas há muito
conhecem e praticam: a credibilidade das fontes, que decorre da sua autoridade
e competência; a exatidão da notícia, dada em todos os seus aspetos mas sem
recorrer ao sensacionalismo e à espetacularização do horror; o questionamento das decisões dos diversos
poderes, tendo sempre em conta uma ótica de cidadania e de serviço público.
Neste contexto, os meios de
comunicação ditos de “massas” ou “tradicionais” - televisões, rádios e jornais
– têm vindo a desempenhar um papel fundamental, tendo-se mesmo assistido a uma
espécie de ressuscitação do antigo ciclo noticioso diário.
Os meios sociais da Internet,
incluindo as redes sociais, não podem competir com esses meios “tradicionais”
enquanto fontes de informação credíveis, exatas e de interesse público. No
entanto, esses meios sociais têm vindo a mostrar a sua importância enquanto
suportes de interação mediatizada (Thompson), permitindo ampliar por via
digital os laços sociais que tivemos (temos) de reduzir por via presencial, na
interação face a face – incluindo no que se refere ao ensino.
Assim, a própria ecologia dos media
contemporâneos acaba por fazer dos dois tipos de media instrumentos
complementares ao serviço da saúde, da economia e da sociedade. Cada um desses
tipos contribuirá certamente, a seu modo, para que ao crepúsculo de que fala
Hegel possa seguir-se uma noite calma e depois, quem sabe, uma nova e bela
madrugada…
Essa é também a nossa esperança.
Paulo Serra